segunda-feira, 11 de junho de 2012

O delírio pelo esférico e a febre do nacionalismo


Entrámos em Junho e com ele chegou a febre do desporto a céu aberto. Este é o mês do Europeu de futebol, do torneio de ténis Roland Garros em França e de outros eventos recorrentes como o MotoGP para os aficionados pelos motores. Vou-me centrar no fenómeno do futebol e da imagem da nossa selecção nacional.
Ser jogador de futebol de um clube reconhecido internacionalmente é sinónimo de carros de luxo, de hotéis caros, de brincos e de cabelos eriçados. Claro que, como tudo na vida, para se chegar à glória é preciso verter muito suor. Ser jogador de uma selecção nacional é suportar um peso dez vezes superior, é levantar toda uma nação. Quando as selecções jogam o duelo acaba por ser muito mais do que apenas uma troca de jogadas e fintas, é um embate de duas bandeiras e de sistemas económicos que visto de fora nos telejornais pode equivaler à história de David contra Golias.
Foi precisamente essa história que se mostrou no passado sábado, na Ucrânia, quando Portugal defrontou a Alemanha no primeiro jogo do seu agrupamento. Não é que a selecção portuguesa seja tão desproporcional frente aos seus vizinhos germânicos, mas a verdade é que grande parte da população portuguesa ergueu os punhos na esperança de superar o país de Angela Merkel através de uma boa goleada no marcador… o que infelizmente não aconteceu.
O problema aqui não é a qualidade dos jogadores, eles fazem o seu melhor. Sou da opinião que a ferida vem mesmo do cerco mediático exagerado que se colocou antes e durante a participação da selecção no Euro. Há quem acredite que se investe demasiado na cobertura do evento, dinheiro esse que sai do bolso da população e poderia ser utilizado para fins mais úteis. No entanto, não é por aí que quero chegar. O que critico é o exagero desmesurado que se faz pela parte de certos canais para relatar ao pormenor a vida e o treino dos jogadores durante o evento.
É certo que vivemos num mundo globalizado onde a informação vem ter connosco num ápice mas até que ponto é que passamos da informação para o trivial? É uma barreira ténue e no caso da cobertura à equipa da selecção foi rompida nos primeiros minutos de esses programas. É simpático para o fã poder sentir-se próximo dos seus ídolos, mas será realmente interessante saber o que é que o Coentrão almoçou ou que a que horas é que o Ronaldo saiu do duche?
O espectáculo mediático continua nos anúncios. Grandes marcas procuram usar a selecção também como uma via para promover-se indirectamente. Assistimos então a promoções para piqueniques, corridas pela selecção, pacotes especiais nos bancos e afins. Não é que eu critique o facto de se fazerem em si, até porque alegra-me ver uma nação unida por uma causa, mas ficaria mais feliz se fosse por algo mais nobre como uma recolha de alimentos ou da Cruz Vermelha. Regressemos então ao peso nos ombros dos nossos jogadores…
A selecção de Paulo Bento tem uma responsabilidade maior do que aparenta, tem a missão de fazer lembrar à Europa e ao mundo que o país é melhor do que a avaliação que as agências de rating lhe deram. O problema é que com um cerco mediático tão exagerado a esperança ultrapassa os níveis do racional para o cegamente fantasioso. Sou da opinião que talvez uma menor cobertura não tão directa aos jogadores poderá ajudar a acalmar os nervos e a melhorar o seu desempenho. Eles já são o centro das atenções quer queiram, quer não e não é necessário apontar-lhes uma câmara vinte e quatro horas por dia a lembrar a teoria de Orwell que irá facilitar as coisas.
Para concluir, não posso deixar de referir a minha opinião em relação ao desempenho da selecção nos últimos jogos. Acho que Portugal não jogou tão bem quanto eu esperava mas como português espero sinceramente que ainda nos traga uma bela surpresa. Encaro o Euro como uma competição entre grandes selecções onde os melhores dos melhores se defrontam. É um evento único e de forte atenção dos fanáticos aos curiosos. É por isso que acredito que algum afastamento dos fanatismos provocados pelos media poderá ajudar a aguçar a visão crítica do que acontece nos diferentes relvados. Estarei atento à Espanha, à Alemanha, à Inglaterra, à Itália… enfim, grandes colossos que irão surpreender. E mesmo que Portugal perca aconselho a não perderem de olho os nossos colegas europeus… Resta só dizer: que ganhe o melhor! 

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